Ao que parece, o El Niño ganhou um irmão: o novo ‘El Niño’. O padrão climático foi detectado por pesquisadores internacionais no hemisfério sul – mais precisamente em direção à Austrália e Nova Zelândia – e foi batizado de “Onda Número 4 do Padrão Circumpolar do hemisfério sul”, ou SST-W4.
A meteorologista da Rural Clima, Bruna Peron, explica que o fenômeno tem características parecidas com o El Niño Oscilação Sul (ENOS ou ENSO na sigla em inglês) e que ainda é cedo para afirmar se o novo ‘El Niño’ trará mudanças climáticas ou não. “Ainda não se sabe se este novo padrão poderá influenciar eventos de chuva, provocar secas ou ocorrências de geadas e quais regiões terão maior probabilidade de serem afetadas”, afirma.
O que é o Novo El Niño?
Os pesquisadores descobriram que o padrão começa perto do mar da Austrália e Nova Zelândia, em uma pequena região que funciona como uma “alavanca” para o SSTT-W4 e quando a as temperaturas aumentam o ‘novo El Niño’ “viaja” na forma de ondas de pressão pelo hemisfério Sul carregando ventos fortes. À medida que os padrões dos ventos mudam, as temperaturas também se alteram no espaço onde o SST-W4 circula formando áreas alternadas de ar quente e frio. Os ventos então transportam o ar aquecido ou resfriado pelo globo, criando um padrão climático incomum em diferentes regiões.
A meteorologista afirma que novos estudos ainda devem ser realizados “já que o ‘novo El Niño’ foi detectado apenas através de simulações de computadores, e não medições reais de temperaturas oceânicas, como acontece com o ENOS. “É importante ressaltar que esta oscilação já existe há muito tempo, e que é independente de outras oscilações já existentes, como o padrão atual de aquecimento do El Niño, ou a fase oposta de resfriamento, La Niña, porém somente agora os pesquisadores conseguiram detectar sua existência”.
O El Niño é um fenômeno marcado pelo aquecimento das águas do Pacífico na linha do Equador e, acontece geralmente de dois a sete anos, sendo que o mais recente desses eventos durou de meados de 2023 a meados de 2024. Já o padrão oposto ao do El Niño é a chamada La Niña, marcada pelo resfriamento das águas do Pacífico.
Fenômeno Oculto
Os cientistas sabiam há alguns anos que havia um padrão afetando as flutuações da temperatura da superfície do mar na região, mas não entendiam como isso funcionava. No estudo, os pesquisadores usaram um modelo climático que representou 300 anos de condições climáticas.
A meteorologista explica que o modelo combina componentes atmosféricos, oceânicos e de gelo marinho para criar uma imagem abrangente do sistema climático da Terra. Quando os dados simulados foram analisados, os pesquisadores identificaram um padrão recorrente de variações da temperatura da superfície do mar ao redor do hemisfério sul e descreveram a descoberta como “encontrar um novo interruptor no clima da Terra”.
No estudo, os cientistas não abordaram como as mudanças causadas por esse ‘novo El Niño’ poderiam evoluir, mas, para a meteorologista, a descoberta pode ser fundamental para entender a interação do oceano e atmosfera para o nosso clima. “Poderá ajudar na explicação de porquê o hemisfério sul tem se tornado mais seco ou com mais eventos extremos ou se os impactos mais significativos ficam restritos apenas a Nova Zelândia e Austrália”.
Fique por dentro:
No primeiro episódio do Podcast Rural Clima, nossos especialistas discutiram sobre a descoberta do ‘novo El Niño’ e o que clima reserva para a safra 24/25. Você pode assistir o clicando aqui.