O Brasil enfrenta uma das piores estiagens dos últimos 75 anos com volumes históricos e preocupantes de seca. O Serviço Geológico do Brasil (SGB) divulgou um boletim de alerta hidrológico, no dia 4 de outubro, com números alarmantes nos principais rios da Bacia Amazônica.
Em Manaus, o Rio Negro atingiu o ponto mais baixo de medição em 122 anos. O nível registrado foi de 12,66 metros superando o recorde anterior de 12,70 metros em 2023. O rio Negro é conhecido pelas águas escuras e um dos principais afluentes do Rio Amazonas que banha a capital do Estado além de ser considerado o sexto maior rio do mundo em volume de água.
Em Porto Velho, o nível do Rio Madeira, é de 29 centímetros. Já o Rio Amazonas chegou a registrar 32 centímetros metros no município Itacoatiara, sendo considerada a pior seca da cidade em 26 anos de medição. Em Tabatinga, na região do Alto Solimões, o Rio Solimões está em -1,99 metros. Dados da Defesa Civil apontam que o rio tem descido, em média, 5 centímetros por dia, no último mês. Em Parintins, o Rio Amazonas atingiu a menor cota da série de dados no posto iniciada em 1974 e está em -2,26 metros.
De acordo com o agrometeorologista da Rural Clima, Marco Antonio dos Santos, em 2023 a seca já havia sido histórica na Bacia Amazônica, mas se agravou porque os rios não receberam um volume de chuvas suficiente desde o segundo semestre do ano passado. “Alguns fatores que têm contribuído para isso são “a presença do fenômeno El Niño, que muda a circulação da atmosfera principalmente na região tropical, o que provocou a inibição das chuvas sobre importantes regiões da Bacia Amazônica e a temporada de furacões no Atlântico Norte por conta das águas do oceano mais aquecidas. Além disso, as águas mais aquecidas, acabam transportando a banda de nebulosidade conhecida como Zona de Convergência Intertropical para regiões ao norte do país, dando suporte de umidade a formação dos furacões e tirando umidade da Região Amazônica”.
Ainda segundo ele, a América do Sul está em alerta neste ano devido a uma ausência prolongada de chuvas aliada aos números de incêndios florestais históricos em vários países. “A estiagem de 2024 é a mais severa já observada na bacia Amazônica e os rios estão abaixo da normalidade para a época, e em algumas áreas, as cotas já atingiram os níveis mais baixos da história”.
Quais rios formam a Bacia Amazônica?
A Região Hidrográfica Amazônica ocupa 45% do território nacional abrangendo sete Estados: Acre, Amazonas, Rondônia, Roraima, Amapá, Pará e Mato Grosso e comporta mais de mil e setecentos rios, entre os quais, o principal é o Amazonas. Além dele, a bacia hidrográfica abriga outros importantes rios, como: Rio Negro, Rio Solimões, Rio Madeira, Rio Xingu, Rio Tapajós, Rio Purus, Rio Branco, Rio Juruá, Rio Japurá e Rio Trombetas.
Com o cenário ambiental crítico, devido à combinação dos níveis dos rios muito baixos e queimadas, as consequências podem ser enormes tanto para as populações ribeirinhas quanto para a economia regional. O agrometeorologista explica que “os prejuízos podem estar relacionados ao abastecimento, navegação, estabilidade geológica local em razão dos fenômenos de terras caídas ocasionados pela diminuição muito rápida dos níveis das águas, processos ecológicos, levando à mortandade de peixes em razão do reduzido espaço para circulação, da elevação da carga orgânica e das temperaturas das águas”.
Ele ainda explica que, para o agronegócio, devido aos baixos índices de chuva, a umidade das camadas mais profundas do solo não se recupera rapidamente. “Esta condição favorece uma estação ainda mais seca e contribui para baixos índices de evapotranspiração e maiores riscos para incêndios florestais”.
Quando as chuvas devem retornar?
As primeiras chuvas significativas começam a ocorrer ainda este mês e a primavera marca o retorno do período úmido no Brasil. A meteorologista da Rural Clima, Bruna Peron, explica que “o início da estação ainda será desafiador, com o retorno das chuvas de forma irregular, pelo menos até meados de outubro. Os episódios irão ocorrer entre as regiões sudeste e centro-oeste neste período, porém as chuvas associadas ainda virão de maneira mal distribuída e não se descarta a possibilidade de calor intenso neste período, devido às chuvas irregulares”. De acordo com os levantamentos meteorológicos da Rural Clima, a regularização na frequência das chuvas é esperada principalmente a partir da segunda quinzena de outubro e ao longo da primavera deste ano.
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